terça-feira, 22 de junho de 2010

Segurança alimentar em risco pelos fenômenos climáticos

Condições adversas e outros fatores climáticos estão prejudicando as
colheitas dos agricultores salvadorenhos e de seus vizinhos na
América Central, o que põe mais pressão sobre a vulnerabilidade
alimentar que já afeta a região. A Guatemala integrou em 2009, pela
primeira vez, uma relação mundial, elaborada pela Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), de países
que enfrentam perspectivas desfavoráveis para as colheitas.

O fenômeno climático Enos (El Niño/Oscilação do Sul) produziu entre
setembro e outubro de 2009 um déficit de chuva em toda a América
Central, prejudicando o plantio de cereais e feijões “de segunda
semeadura” em algumas partes da Nicarágua, Guatemala, Honduras e El
Salvador, diz o informe da FAO. O Furacão Ida, que açoitou parte da
região centro-americana em novembro do ano passado, afetou
consideravelmente a estrutura produtiva agropecuária. Em El
Salvador, as intensas chuvas deixaram 198 mortos, 15 mil
desabrigados e US$ 239 milhões em prejuízos.

“Todo meu esforço ficou arruinado, só se salvou um pouco da colheita
de milho”, disse à IPS Isidro Rivas, agricultor de 48 anos, oriundo
do Cantão Izcanal, cerca de 45 quilômetros a leste de São Salvador,
na jurisdição de Puerto de La Libertad. As chuvas alagaram suas
terras cultivadas com milho, sorgo, papaia e pimenta.

Além disso, Guatemala e El Salvador voltaram a enfrentar a força da
natureza com a passagem da tempestade tropical Agatha, no final de
maio. As perdas no setor agropecuário atingiram os US$ 6 milhões em
El Salvador, segundo dados oficiais. O impacto econômico total ainda
não foi calculado, mas será elevado, afirmou o secretário técnico da
Presidência, Alexander Segovia.

“Seja inundação ou seca, os extremos sempre prejudicarão os
rendimentos da agricultura. Sobretudo quando cerca de 60% dos grãos
básicos em El Salvador são cultivados em encostas”, disse à IPS
Edgar Cruz, do Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura (IICA). El Salvador, sempre deficitário na produção de
hortaliças, agora terá que aumentar suas importações em 30% para
atender a demanda, segundo a salvadorenha Câmara Agropecuária e
Agroindustrial (Camagro), citadas pela La Prensa Gráfica.

A Camagro diz que o país, no início do ano, importava seis em cada
dez hortaliças consumidas, mas agora, com os estragos deixados pela
Agatha, importa nove em dez. Já há registro de altas nos preços dos
vegetais nos mercados do país. “A forma mais prática de medir o
nível de segurança alimentar é detectando se o país é
autossuficiente na produção de um bem em particular, isto é, se
produz a quantidade suficiente para atender o consumo nacional de
seus habitantes”, afirmou Cruz.

O panorama para o futuro não é animador. Espera-se uma temporada
chuvosa muito ativa no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, segundo
previsões da Universidade Estatal do Colorado, nos Estados Unidos,
divulgado no dia 2. São esperados, em média, 18 ciclones tropicais
no Oceano Atlântico e 12 no Pacífico. Muitos camponeses e pequenos
agricultores não têm os meios necessários para se recuperar dos
estragos deixados em suas lavouras pelas chuvas.

“Estava preocupado. Sem colheita não há dinheiro, e sem dinheiro
passamos fome”, disse o agricultor Rivas, que vive com sua mulher e
cinco filhos. Sua família foi uma das 3.136 beneficiadas, nos
departamentos de La Paz e La Libertad, no centro do país, por um
programa impulsionado pela FAO, iniciado em dezembro do ano passado.
A ideia foi restabelecer os meios de subsistência das famílias que
perderam tudo por causa da chuva, por meio de hortas caseiras,
criação de galinhas poedeiras e entrega de sementes de feijão.

Para as hortas caseiras, o programa deu a cada família 25 libras de
fertilizante, uma enxada, uma pá, um instrumento para furar o solo,
sementes de rabanete e de ejote (uma variedade de feijão) para
plantar em uma área de 50 metros quadrados. Este componente foi
coordenado com o governamental Centro Nacional de Tecnologia
Agropecuária e Florestal (Centa), que também forneceu sementes de
feijão e pepino. Além disso, foram entregues a cada família dez
galinhas poedeiras, um galo e arame para a cerca. A doação incluiu
um kit veterinário com vacinas e vitaminas para cada 25
beneficiados.

A maioria dos favorecidos no Cantão Melara, em La Libertad, é de
mulheres. Embora se dedicassem antes à criação de aves, agora
tiveram de entrar de cheio, pela primeira vez, em tarefas agrícolas.
“Nunca fiz isso. Nem sabia como plantar pepino. Deu até bolhas nas
mãos de tanto trabalhar a terra”, contou Rosa Olivia Amaya, de 28
anos. Agora que tem animais e horta, diz que passou a preocupação
que tinha após a passagem do Furacão Ida: dar de comer aos seus
filhos.

Contudo, os agricultores de Melara viram como, meses depois das
primeiras colheitas, a Agatha os fez perder 50 metros quadrados da
plantação de pepino, uma área pequena em relação a todo o projeto. A
tempestade também arruinou depósitos de fertilizantes, segundo o
engenheiro agrônomo Luis Valladares, do Centa.

Redução de geleira pode gerar escassez de alimento na Asia

Cerca de 60 milhões de pessoas vivendo no entorno da cordilheira do
Himalaia deverá sofrer com falta de água nas próximas décadas em
consequência da redução nas geleiras, informa um estudo divulgado
nesta quinta (10) na revista "Science".

O impacto da redução nas geleiras, porém, será menor do que
anteriormente estimado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas) da ONU.

O motivo da diferença, segundo os autores do estudo, é que algumas
das bacias que cercam os Himalaias dependem mais da água das chuvas
do que do derretimento das geleiras para se manter.

As bacias que dependem fortemente das geleiras, como as dos rios
Indus, Ganges e Brahmaputra, que cobrem o sul da Ásia, podem sofrer
um declínio hídrico de cerca de 20% até 2050.

O rio Amarelo, na China, por outro lado, poderia testemunhar um
aumento de 9,5% nas precipitações em consequência das mudanças
climáticas.

"Mostramos que apenas algumas áreas serão afetadas", afirmou Marc
Bierkens, professor de Hidrologia da Universidade de Utrecht, que
conduziu o estudo junto com Walter Immerzeel e Ludovicus van Beek.

Debate


O estudo é um dos primeiros a examinar o impacto da redução no
tamanho das geleiras nas bacias hidrográficas do Himalaia. O
resultado deverá esquentar o debate sobre a capacidade de mudanças
climáticas devastarem bacias hidrográficas.

Grande parte dos cientistas concorda que as geleiras estão
derretendo a um ritmo acelerado a medida que as temperaturas
aumentam.

E a maioria associa esse aquecimento diretamente ao aumento nas
concentrações atmosféricas de gases-estufa.

Contudo, algumas geleiras, como as do Himalaia, poderiam existir por
séculos em um mundo mais quente.

Mas mais de 90% das geleiras do planeta estão recuando, com grandes
perdas já observadas no Alaska, Alpes, Andes e outras cordilheiras,
segundo pesquisadores dos EUA e Europa.

Relatório do IPCC


Alguns cientistas foram criticados por erros contidos no relatório
do IPCC, divulgado em 2007. O relatório sugeria que as geleiras do
Himalaia desapareceriam até 2035.

Birkens e colegas afirmaram que governos na região deveriam se
preparar para as secas que são esperadas, incentivando o cultivo de
espécies que necessitam de menos água, o uso de práticas de
irrigação mais racionais e a construção de grandes tanques para o
armazenamento de água.

"Estimamos que a segurança alimentar de 4,5% da população total será
ameaçada como consequência da redução na disponibilidade de água",
escreveram os autores. "É preciso, portanto, priorizar o crescimento
na produtividade com água."


Fonte
: Folha de S. Paulo

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